domingo, 10 de julho de 2011

Quem te viu, quem te vê...

Já tinha me esquecido deste canto. O interessante do blog é justamente isso, você volta depois de um tempo e vê ali cristalizado um retrato de quem você era naquela época. Da psiquiatria pulei pra pediatria, parei com os plantões devido ao cansaço por causa da residência.

O amor? Ah, esse continua imortal, infinito e imensurável...

O que tem uma coisa a ver com a outra? Bem, ao ter (temporariamente ao menos) escolhido uma "área" e escolher fazer uma residência, não vou mais saltitar de um lado pro outro entre os conhecimentos da medicina. É pediatria. É o Cris. É minha vida constante pela primeira vez. Ainda tenho lapsos, "surtos", mas no geral estou mais constante. Sem oscilações bruscas de humor. Sem alternar entre amor e ódio. Admirando a escala de cinza entre o branco e o preto. Aí a gente para e pensa "caramba, como eu sobrevivi até hoje sem ser desse jeito?". Porque não era a hora ainda, acho.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Saudadinha


Porque eu sinto falta dele em todos os momentos. Não é meu príncipe no cavalo branco, é melhor. É real, é de carne e osso, com defeitos e tudo. Briga comigo, me deixa triste mas me faz aprender e crescer. Toda vez que estou trabalhano, morro de saudades só de saber que ele não está perto. Quando estamos juntos, não ligo se ele está na sala assistindo TV e eu estou no quarto lendo, eu sei que ele está lá e isso já me deixa feliz. Saudades de olhar nos olhos dele antes de dormir. Saudades do abraço antes de dormir, do beijo antes de dormir, do "boa noite, amor" antes de dormir.


Tô com saudade de você
Debaixo do meu cobertor
E te arrancar suspiros
Fazer amor
Tô com saudade de você
Na varanda em noite quente
E o arrepio frio
Que dá na gente
Truque do desejo
Guardo na boca
O gosto do beijo...
e talvez ninguém entenda o quão profundo isso é pra mim, mas o seguinte diálogo no msn foi o mais importante do dia (quiçá do ano):

Eu:
eu amo meu namorado...
Amigo surinamense:
po, conta algo novo.


Sei que pode parecer bobagem, mas não é. Todo dia me surpreendo com a capacidade que temos de mudar. Há 10 anos, eu me imaginava casada em 2010 e com filhos. Há 5 anos, eu me imaginava casada em 2010 mas sem filhos. A capacidade de amar que temos sempre me impressiona.

Hoje? Namorando. E não namoraaaaaando há milênios. Namorando, namorico, coisa nova. Coisa pra sempre, mas ainda assim nova. Como me imagino daqui a 5 anos? Não sei. Talvez não queira saber. Certeza mesmo eu só tenho uma: continuarei feliz.

"Sem saber que o pra sempre sempre acaba..."

Todo dia eu me pergunto o que é ser feliz para sempre. Vejo meus avós casados há 50 e muitos anos e às vezes penso que é isso. Olho para os dois trocando selinhos nas datas festivas e me parece que é isso. Mas então meus pais que foram casados por 23 anos não se amaram para sempre enquanto existia o pra sempre deles? Pra sempre é algo muito relativo. Pra sempre é mais questão de intensidade do que duração. Acredito sim que meus pais foram felizes para sempre. Morro de orgulho dos dois, ainda cultivo o sonho de me casar, entrar com papai chorão na igreja, dar netinhos pros dois, reunir família nas festas de final de ano, toda essa fantasia coca cola de ser.

Eu amei para sempre.

Eu amo para sempre.

Não acho isso incoerente, por mais estranho que possa parecer.

Eu me dou, eu me doo, eu me entrego, eu me jogo, eu amo pra sempre. Talvez esse seja o problema...

recorde mundial

Há uns 20 minutos entrou uma cidadã no meu consultório. Perguntei o que estava acontecendo e a resposta foi "to toda ruim, sou toda péssima, toda estragada, meu joelho dói, meu coração ta ruim, minha garganta ta arranhando, tenho dor de cabeça todo dia, minha urina arde, estou com gases, minha coluna dói, tenho hérnia, estou com falta de ar, a barriga dói toda, meu braço tá todo duro, tenho diarréia, fico zonza..." (nao estou mentindo, estou lendo da ficha dela)

E o pulso ainda pulsa...

Mirror mirror on the wall

O problema desse blog é que nunca postarei algo fiel aos meus pensamentos. Sou interrompida a cada 5 minutos ou menos com algum paciente reclamando de dor de cabeça (pega dipirona no posto, mané!)

Há uns anos eu tinha um blog, algo sobre pensamentos confusos de uma mente desorganizada. Recordo-me de um texto em especial sobre um dia quando eu cheguei em casa, me olhei no espelho do elevador e não me reconheci. A menina que lutava pelos seus sonhos tinha desaparecido, a menina que tinha ideais tinha se cansado. Hoje olho no espelho e sorrio. Antes eu me preocupava por não mais ostentar sempre um sorriso, por não reparar mais nas nuvens, por não sentir o cheiro das flores, por estar opaca, cansada e vazia.


Continuo opaca, cansada e vazia. Continuo com a pele sem viço, olheiras, cara de cansada, olhos sempre caídos. A diferença é que mesmo assim hoje me permito um sorriso para quem eu nem conheço. Flagro-me dardejando olhares para o alto, o céu, o nada. Sinto o cheiro de tudo, tudo, das flores, da cidade, da cama, do pescoço. Cheirinho de pescoço, quer coisa melhor? Eu não sabia o que era cheiro de pescoço. Eu não me permitia sentir um cheiro de pescoço. Cheiro de travesseiro. Cheiro de lençol. Não lençol novo, esse não tem graça, todos tem o mesmo cheiro, digo aquele lençol já dormido.

Não me preocupo mais por não me preocupar com as coisas, não me aflijo mais por não me afligir com a vida. Baça, vazia, opaca mas indecentemente feliz.

A defensora dos frascos e comprimidos

....not.

Quem está aqui é porque me conhece, logo, apresentações são desnecessárias. O título surgiu porque hoje ouvi de um paciente "e agora, quem poderá me ajudar?" quando entrou no consultório. Pena que a roupa daqui é azul, não vermelha. Ah sim, nesse momento estou de plantão. Em homenagem ao Saramago, não sou fã de escrever usando a norma culta da língua portuguesa. O fluxo de pensamentos é meu, não do Aurélio, maldito seja.

Não sou defensora de frascos e comprimidos. Odeio o jeito que trabalho. A paciente que acabou de sair da minha sala só tem uma gripe mais forte, está com nariz entupido, coisas que todo mundo tem algumas vezes por ano, sinusite viral, cuide-se e em alguns dias você estará melhor... mas adianta falar? Se você não prescreve um fármaco, você é um mau médico. Você não sabe de nada, tadinha da dotora, tão novinha, ainda não entende das coisas. Aí eu entro na lista dos irresponsáveis que passam amoxicilina para meio mundo e minha cabeça fica um tantinho mais pesada a cada dia que passa.

"Mas nem uma vitamina, dotora?" NÃO. A inversão de valores é tão ridícula que hoje vale mais gastar todo o já pequeno salário na farmácia com suplementos artificiais do que investir numa boa alimentação. Não passo vitamina C, passo suco de laranja, acerola e limão... Não passo ferro, passo feijão, vegetais de folhas escuras e suco de laranja. Não passo sprays para a garganta, passo própolis.

Divaguei.

O propósito do blog não é só contar lamúrias do trabalho, eu juro. Inevitavelmente eu tocarei nesse assunto já que dediquei todo meu minúsculo tempo de vida a ser essa farsa de azul e estetoscópio no pescoço que vos fala (ou digita), mas não me resumo a isso. Espero eu.